Temor a Deus
A sua misericórdia estende-se aos que o temem, de geração em geração. Ele realizou poderosos feitos com seu braço; dispersou os que são soberbos no mais íntimo do coração. Derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos. Ajudou a seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia para com Abraão e seus descendentes para sempre, como dissera aos nossos antepassados. (Lucas 1.50-55)
Com o coração saturado das Escrituras Sagradas, a jovem Maria transbordou de gratidão e louvor a Deus por meio de um cântico historicamente conhecido como Magnificat (Lucas 1.46-55). Numa clara mudança de tom (1), a segunda parte de seu poema louva a Deus por Sua misericórdia, justiça e ajuda aos humildes e famintos que O temem, bem como ao Seu povo escolhido, Israel.
O sábio de Provérbios disse que o temor do Senhor é o princípio do conhecimento (Provérbios 1.7). Sem temor a Deus as pessoas desprezam a sabedoria e a disciplina divina e se arriscam numa vida ao seu bel-prazer.
Muitos não sabem exatamente o significado de temor. Assim, imagine um carro muito potente. Quando diante dele, você se admira com sua beleza radiante e, mais ainda, com a informação de sua especial fabricação artesanal. Ao ouvir o ronco do motor, você se assusta com o volume e a potência do automóvel. E ao lhe perguntarem se você gostaria de dirigi-lo, você tanto responde quanto dirige com extremo zelo. Então, aí estão presentes as características do significado bíblico de temor. Nós tememos a Deus quando demonstramos admiração, medo e zelo pelo que conhecemos da Sua majestosa beleza, do Seu infinito poder e das consequências de se negligenciar os parâmetros morais que Ele estabeleceu segundo Sua santa vontade.
De acordo com o Magnificat, aqueles que temem o Senhor alcançam a misericórdia, a justiça e a ajuda de forma especial de Deus. Maria cantou que os humildes foram honrados, os famintos se fartaram de coisas boas e Israel foi ajudado pela fiel promessa que Deus havia feito a Abraão, o pai da nação israelita. As palavras de Maria refletem seu bom conhecimento das Escrituras, fonte de seu conhecimento acerca de Deus. Quase mil anos antes de Maria nascer, o rei Davi, homem segundo o coração de Deus (1 Samuel 13.14), já havia declarado as mesmas características do caráter divino: Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e misericordioso, muito paciente, rico em amor e em fidelidade (Salmo 86.15); Pois o Senhor é justo, e ama a justiça; os retos verão a sua face (Salmo 11.7); Eis que Deus é o meu ajudador; o Senhor é quem sustenta a minha vida (Salmo 54.4 – grifos meus).
Diariamente nos relacionamos, ainda que nem sempre cientes, com a misericórdia, a justiça e a ajuda de Deus. Sua misericórdia nos impede de sermos consumidos por Sua ira contra o pecado (Lamentações 3.22). Sua justiça é o prumo que avalia nossa conduta e o fundamento de Sua justa retribuição (Salmos 9.8, 18.20; 37.28). Sua ajuda é imprescindível para que possamos nos relacionar com Ele e para desfrutarmos de Sua salvação (Salmos 27.9; 37.40; 38.22). Com isto em mente, observe a passagem abaixo:
Mas quando se manifestaram a bondade e o amor pelos homens da parte de Deus, nosso Salvador, não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós generosamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. (Tito 3.4-6).
Não são os nossos atos de justiça que nos favorecem diante de Deus. Não há nada que nossas mãos possam fazer que nos garanta a salvação. Somos tão sujos por causa dos nossos pecados que é impossível nos apresentarmos limpos diante dEle, por meio de nossos próprios esforços. Por sua vez, ciente da nossa situação e sendo rico em misericórdia (2), Deus nos ajuda em nossa purificação (o lavar regenerador e renovador (3)), condição essencial para nos relacionarmos com Ele. A fé em Jesus Cristo, nosso Salvador, é o caminho para a ação regeneradora e renovadora do Espírito Santo.
Eu não sei quão sujo você está, mas sei quão sujo eu já estive. Minha antiga religiosidade nunca me aproximou de Deus, pelo contrário, afastava-me cada vez mais, pois induzia-me a me sentir merecedor da vida eterna. Ela era uma grande barreira para que eu entendesse a graça de Deus. Qual a pior sujeira de sua vida? Soberba? Teimosia? Incredulidade? Idolatria? Mentira? Inveja? Descontrole? Amargura? Adultério? Assassinato? Qualquer que seja, posso lhe assegurar: não há sujeira causada pelo pecado que o Senhor Jesus não possa limpar.
Com o devido temor, busque em Deus misericórdia, justiça e ajuda. Essas são características inerentes ao Natal de verdade porque também caracterizam Jesus, o Salvador.
UMA ORAÇÃO
“Senhor Deus, eu agora O conheço e me conheço melhor. Eu desejo, como nunca desejei, relacionar-me com o Senhor. Por isso, eu peço perdão pela falta de fé que me impede de crer em Jesus Cristo. Eu temo o Senhor e clamo por Sua misericórdia. Salva-me, Senhor! Em nome de Jesus, amém.”
1) Maria muda o cântico da primeira pessoa do singular (eu) para a terceira pessoa do singular (Ele) entres os versículos 50 e 51, marcando uma evidente divisão no texto.
2) A misericórdia de Deus se expressa em Ele não aplicar o castigo merecido.
3) Ou seja, o novo nascimento (João 3.5-8).
Este texto é Capítulo 10 do devocional “O Natal Verdadeiro – 12 Reflexões Bíblicas e Natalinas segundo o evangelho de Lucas“, criado por Thiago Zambelli, e publicado originalmente em www.nataldeverdade.com.br. Compartilhado com a devida autorização do autor.