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Relativismo Moral: Como Defender a Verdade Absoluta em um Mundo Relativista

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Teologia da Reforma

Vivemos em uma era onde a ideia de “verdade” tornou-se subjetiva. O relativismo moral – a crença de que conceitos de certo e errado são construções sociais e, portanto, variáveis – é amplamente aceito e, para muitos, representa uma forma de tolerância e respeito à diversidade cultural e individual. Em uma sociedade pluralista, o relativismo é defendido como uma abordagem que evita julgamentos e promove a paz social. No entanto, o relativismo moral entra em choque direto com o conceito bíblico de verdade absoluta, no qual o certo e o errado são definidos por Deus e são imutáveis.

Como cristãos, somos chamados a defender e viver de acordo com a verdade revelada nas Escrituras. A pergunta central é: como podemos sustentar e proclamar a verdade absoluta de Deus em um mundo que rejeita a existência de absolutos?

A Perspectiva Bíblica da Verdade Absoluta

A Bíblia afirma que Deus é o padrão de toda verdade e moralidade. Em Salmos 119:160, lemos: “A totalidade da tua palavra é a verdade, e cada uma das tuas justas ordenanças dura para sempre.” A ideia de que a Palavra de Deus é verdadeira e duradoura se contrapõe diretamente ao relativismo, que afirma que nada é absoluto e tudo é mutável.

Jesus Cristo também reforça o conceito de verdade absoluta quando declara: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6). Esse versículo não deixa espaço para interpretações alternativas; Cristo se apresenta como a única verdade e o único caminho para Deus, uma afirmação de exclusividade que é desconfortável para o pensamento relativista. Jesus não apenas ensina a verdade, Ele é a verdade em si.

Além disso, em Isaías 5:20, Deus adverte: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade; põem o amargo por doce, e o doce por amargo!” Esse texto revela que o relativismo moral não é algo novo; a humanidade sempre teve a tendência de redefinir a moralidade segundo suas conveniências. Entretanto, para o cristão, a verdade de Deus é clara e firme, independentemente das mudanças culturais.

Refutando o Relativismo Moral

O relativismo moral, apesar de popular, possui inconsistências profundas. Um dos problemas fundamentais é que ele é autocontraditório: ao afirmar que “não existe verdade absoluta”, o relativista faz uma declaração absoluta. Se nenhuma verdade é absoluta, então a afirmação do relativismo não pode ser verdade, o que o torna incoerente.

Além disso, o relativismo moral ignora a experiência humana universal de justiça e injustiça. Todos os seres humanos, independentemente de cultura ou crença, têm uma intuição moral – um senso de certo e errado. O apóstolo Paulo explica isso em Romanos 2:14-15, onde afirma que até os gentios, que não tinham a lei de Moisés, “demonstram a obra da lei escrita em seus corações”. Essa consciência moral universal aponta para uma origem moral objetiva, que se encaixa na revelação de um Deus justo e santo.

O relativismo moral também falha em oferecer um fundamento sólido para a justiça e os direitos humanos. Se o certo e o errado são construções sociais, então as atrocidades podem ser justificadas sob a perspectiva de diferentes culturas ou épocas, como o racismo ou o genocídio. No entanto, essas práticas são universalmente condenadas pela humanidade, o que revela que, na prática, ninguém vive como se o relativismo fosse verdade.

Como bem ponderou Arival Dias Casimiro, em seu livro “Deus Está Certo: A ética cristã em tempos de relativismo“:

A ausência de autoridade e de limites legais gera a anarquia, o relativismo e o subjetivismo. Se cada pessoa faz o que acha o que é mais certo, estabelece-se o caos total.

Arival Dias Casimiro

Defesa Apologética da Verdade Cristã

Para defender a verdade cristã em um contexto relativista, é necessário abordar as pessoas com firmeza, mas também com graça, seguindo o conselho de 1 Pedro 3:15: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito.” Aqui estão algumas estratégias apologéticas para enfrentar o relativismo moral:

  1. Apresentar o Argumento da Coerência: Mostre que a cosmovisão cristã é mais coerente e racional do que o relativismo. A moralidade cristã não apenas explica o senso de justiça, mas também oferece um padrão objetivo que transcende culturas e épocas.
  2. Mostrar a Fragilidade do Relativismo: Ajude a pessoa a ver que o relativismo moral é insustentável, pois, na prática, ninguém vive como se tudo fosse relativo. A sociedade funciona com base em leis e valores comuns que só podem ser justificados pela existência de uma moralidade objetiva.
  3. Enfatizar a Natureza Pessoal de Deus: Explique que o conceito cristão de moralidade objetiva é fundamentado no caráter de Deus, que é pessoal, amoroso e justo. Não seguimos leis arbitrárias, mas sim os mandamentos de um Deus que nos ama e deseja nosso bem.
  4. Conectar a Verdade com o Amor e a Justiça: Muitos relativistas veem a ideia de verdade absoluta como algo opressor. No entanto, é fundamental mostrar que a verdade de Deus é libertadora e promove uma justiça genuína. João 8:32 declara: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” A moral cristã não é um peso, mas um caminho de liberdade e paz.

Vivendo a Verdade Absoluta em um Mundo Relativista

A defesa da verdade absoluta não é apenas um exercício intelectual; ela precisa se manifestar em nossa maneira de viver. Em Tiago 1:22, somos exortados a sermos “praticantes da palavra, e não apenas ouvintes”. Conforme disse Nancy Pearcey, citando Dupré: “Nosso compromisso com a verdade cristã ‘não pode simplesmente continuar a ser uma parte discreta da vida’, diz Dupré; ele deve ‘integrar todos
os demais aspectos da existência’”
(in A busca da verdade. São Paulo: Cultura Cristã, 2018).

Aqui estão algumas práticas para viver a verdade de forma concreta em um mundo relativista:

  • Mantenha-se Firme na Palavra de Deus: A Bíblia deve ser nosso padrão de verdade, mesmo quando as opiniões populares mudam. Leitura e meditação constante na Palavra de Deus nos capacitam a discernir o certo do errado.
  • Ame com a Verdade: Em Efésios 4:15, Paulo nos orienta a falar a verdade em amor. Nosso compromisso com a verdade deve ser equilibrado com um coração amoroso e acolhedor, especialmente ao dialogar com pessoas que não compartilham da mesma fé.
  • Pratique a Integridade e a Coerência: Não basta proclamar a verdade; é essencial que nossas ações reflitam essa verdade. Jesus chamou Seus seguidores para serem “sal da terra” e “luz do mundo” (Mateus 5:13-16), e isso envolve viver de forma ética e íntegra em todas as áreas da vida.
  • Ore por Sabedoria e Coragem: Em um mundo que rejeita a verdade absoluta, precisamos de coragem e sabedoria para testemunhar fielmente. Peça ao Espírito Santo que lhe dê sabedoria para falar com clareza e ousadia para defender a verdade.

Conclusão

O relativismo moral é um desafio profundo à fé cristã, mas não é uma novidade. Desde a queda, a humanidade tem redefinido a verdade e buscado viver de acordo com seus próprios padrões. Contudo, como discípulos de Cristo, somos chamados a proclamar e viver a verdade imutável de Deus em todas as circunstâncias.

Defender a verdade absoluta é mais do que uma questão intelectual; é um compromisso de fé com Aquele que é a Verdade. Que sejamos fiéis ao chamado de sermos “luzeiros no mundo” (Filipenses 2:15), proclamando a verdade e vivendo de modo que as pessoas possam ver Cristo em nossas vidas. Que Deus nos conceda graça, sabedoria e coragem para defender Sua verdade em um mundo que desesperadamente precisa dela.

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