Nesta semana, uma irmã da igreja me procurou pedindo ajuda para entender melhor a prática do jejum. Ela estava buscando uma forma mais profunda de se conectar com Deus e queria saber como o jejum poderia ser uma ferramenta espiritual eficaz para esse propósito. Essa conversa me levou a refletir sobre a importância do jejum na vida cristã, especialmente em um mundo onde tantas coisas competem por nossa atenção.

O Que é o Jejum Cristão?

O jejum cristão é a prática de abster-se voluntariamente de alimentos ou outras atividades temporais com o objetivo de buscar a Deus de maneira mais intensa. Essa prática não é apenas uma questão de privação física, mas uma entrega espiritual, onde o crente escolhe abrir mão de algo legítimo para dedicar-se à oração e à comunhão com Deus. Jesus, em Mateus 4:1-2, jejuou por quarenta dias e quarenta noites no deserto, demonstrando a importância do jejum como preparação espiritual e como forma de resistir às tentações.

O jejum é uma prática enraizada tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No Novo Testamento, embora não haja um mandamento explícito para jejuar, Jesus pressupõe que Seus seguidores o farão. Em Mateus 6:16, Ele diz: “Quando jejuardes…”, sugerindo que o jejum é uma prática esperada dos discípulos de Cristo. Assim, o jejum não é apenas uma tradição antiga, mas uma disciplina espiritual que permanece relevante e poderosa para os cristãos de hoje.

O Objetivo do Jejum Cristão

O jejum cristão tem como objetivo principal aprofundar a comunhão com Deus. Não se trata apenas de uma renúncia, mas de uma busca intencional pela presença divina. Ao jejuar, o crente expressa um desejo profundo de conhecer a Deus de forma mais íntima, de ouvir Sua voz com clareza e de alinhar sua vida com a vontade divina. No Salmo 42:1-2, lemos: “Como a corça anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus.” Esse anseio por Deus é a essência do jejum.

Além disso, o jejum é uma resposta a uma necessidade ou desejo espiritual profundo. Pode ser motivado por arrependimento, busca por santificação, ou intercessão por outras pessoas. No Salmo 27:4, Davi expressa esse desejo: “Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor.” O jejum, portanto, é uma expressão desse desejo profundo de estar na presença de Deus e de conhecê-Lo mais plenamente.

O jejum também pode ser uma ferramenta para discernir a vontade de Deus, especialmente em momentos de grandes decisões. Em Atos 13:2-3, enquanto os líderes da igreja em Antioquia adoravam e jejuavam, o Espírito Santo revelou que Barnabé e Saulo deveriam ser separados para a obra missionária. Isso mostra que o jejum pode trazer clareza espiritual e direção em tempos de incerteza.

Resumo do Livro Entendendo a Prática Do Jejum de Paul Washer

Para enriquecer essa reflexão, gostaria de compartilhar um resumo dos principais pontos do livro Entendendo a Prática Do Jejum de Paul Washer, que oferece uma visão abrangente e prática sobre o jejum cristão:

  1. O Jejum como Busca Intensa por Deus: Washer descreve o jejum como a prática de abster-se de alimentos ou outras atividades temporais para buscar a Deus de maneira mais profunda. A negação dos prazeres físicos é acompanhada de oração e comunhão intensas com Deus, conforme exemplificado por Jesus em Mateus 4:1-2.
  2. Relevância no Antigo e Novo Testamento: Embora o Novo Testamento não ordene explicitamente o jejum, ele é assumido como uma prática natural dos seguidores de Cristo (Mateus 6:16). Assim, o jejum continua sendo uma disciplina espiritual importante tanto na antiga aliança quanto na nova.
  3. Jejum como Resposta a Necessidades Espirituais: O jejum deve ser uma resposta a uma necessidade ou desejo espiritual profundo, levando o crente a buscar a Deus acima de tudo. O Salmo 42:1-2 ilustra bem essa fome espiritual por Deus.
  4. Busca pela Presença de Deus: Washer enfatiza que o jejum deve ser uma expressão sincera do desejo de maior intimidade com Deus, como expressa no Salmo 27:4. O jejum não deve ser uma prática ritualística, mas uma busca genuína por Deus.
  5. Discernimento da Vontade de Deus: O jejum pode ser especialmente útil para discernir a vontade de Deus em momentos de grandes decisões, como vemos em Atos 13:2-3. Durante o jejum, a clareza espiritual pode ser alcançada.
  6. Autoexame e Arrependimento: O jejum também serve como um momento de autoexame e arrependimento, permitindo que o crente confronte pecados ocultos e busque maior dependência de Cristo, como fez Neemias (Neemias 1:4).
  7. Domínio dos Desejos da Carne: O jejum é uma ferramenta para ajudar o crente a vencer o pecado e dominar os desejos da carne, promovendo crescimento em santificação. Jesus ensina que certos tipos de desafios espirituais só podem ser superados com oração e jejum (Mateus 17:21).
  8. Jejum como Intercessão: O jejum não é apenas para benefícios pessoais, mas também pode ser uma poderosa forma de intercessão pelos outros, especialmente em tempos de crise ou necessidade, como Daniel fez pelo povo de Israel (Daniel 9:3).
  9. Jejum Coletivo: Washer também destaca o jejum coletivo como uma prática poderosa para o povo de Deus, promovendo arrependimento e renovação espiritual em comunidade (Joel 2:12-17).
  10. Coração Sincero e Motivação Correta: O jejum deve ser feito com um coração sincero, motivado pelo amor a Deus. Há promessas associadas ao jejum feito com a atitude correta, mas também advertências contra jejuar com hipocrisia (Isaías 58:6-9).
  11. Cautela e Equilíbrio: Washer adverte que o jejum deve ser feito com cautela, especialmente em relação à saúde física e à motivação espiritual. A prática deve ser equilibrada e sempre focada na glorificação de Deus.
  12. Propósito Claro: Antes de iniciar o jejum, é importante definir claramente o propósito espiritual, seja arrependimento, intercessão, busca por direção divina, ou maior intimidade com Deus (Filipenses 4:6).
  13. Jejum Acompanhado de Oração: O jejum deve sempre ser acompanhado de oração intensa, redirecionando o tempo das refeições para oração e meditação na Palavra de Deus.
  14. Evitar Ostentação e Autojustificação: Finalmente, Washer adverte contra o jejum com o objetivo de impressionar os outros ou de obter autojustificação. Jesus nos ensina a jejuar em segredo, com o coração voltado para Deus (Mateus 6:17-18).

Como Praticar o Jejum Cristão na Vida Hoje?

Nos dias de hoje, o jejum pode ser praticado de várias maneiras, adaptadas às necessidades e ao contexto de cada pessoa:

  1. Jejum de Alimentos: Este é o tipo mais tradicional de jejum, onde a pessoa se abstém de alimentos por um período específico. Durante esse tempo, é importante focar na oração e na leitura da Bíblia, buscando uma comunhão mais profunda com Deus.
  2. Jejum de Distrações: Em nossa sociedade moderna, repleta de distrações, jejuar de redes sociais, televisão ou outras atividades que consomem nosso tempo pode ser extremamente benéfico. Esse tipo de jejum ajuda a eliminar as distrações que competem por nossa atenção, permitindo um foco mais profundo em Deus.
  3. Jejum Coletivo: Como vimos em Joel 2:12-17, o jejum coletivo era uma prática comum em momentos de crise, onde o povo se voltava para Deus em arrependimento e oração. Nos dias de hoje, o jejum coletivo pode fortalecer a unidade de uma comunidade de fé, permitindo que todos busquem a direção de Deus juntos.
  4. Propósito Definido: É crucial que o jejum tenha um propósito claro e bem definido. Seja para buscar direção divina, interceder por alguém, ou expressar arrependimento, o jejum deve ser feito com uma intenção específica em mente.

Reflexões Finais

O jejum bíblico é uma prática de abstenção que visa buscar a Deus, adorá-Lo, discernir Sua vontade, expressar arrependimento e crescer em santificação. Não se trata de uma ferramenta para barganhar com Deus ou tentar obter algo em troca. O foco do jejum deve estar na comunhão com Deus, na transformação do coração e na submissão à Sua vontade, e não em alcançar desejos pessoais.

O jejum mecânico, como um simples cumprimento de regras, ou com o intuito de manipular Deus para obter bênçãos imediatas, é contrário ao ensino bíblico. Como Isaías 58:6-9 nos lembra, o verdadeiro jejum que agrada a Deus envolve justiça, libertação e cuidado com os necessitados, refletindo um coração quebrantado e contrito diante do Senhor.

Que possamos praticar o jejum com um coração sincero, buscando acima de tudo a comunhão com Deus, e permitindo que Ele nos molde e transforme em cada passo da jornada.

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