Louvores a Deus, não a um Deus
Então disse Maria: “Minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, pois atentou para a humildade da sua serva. De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Poderoso fez grandes coisas em meu favor; santo é o seu nome. (Lucas 1.46-49)
Nós cantamos por diferentes razões. Às vezes cantamos para expressar nossa emoção, outras vezes para chamar atenção, ou ainda por pura imitação. Às vezes cantamos contra a corrupção ou a favor de uma revolução, outras vezes por profissão. Na maior parte das vezes cantamos pela simples e gostosa satisfação pessoal. Como diz o ditado: quem canta seus males espanta.
Além de tudo isso, nós também cantamos para adorar alguém ou alguma coisa. Maria, tendo em vista o primeiro Natal de verdade, cantou (1) belas palavras de louvor e gratidão a Deus, que a escolhera para o privilegiado papel de mãe do Messias. Sua canção é também conhecida como Magnificat (2), que é a primeira palavra deste trecho bíblico na versão da Bíblia em latim: “Magnificat anima mea Dominum….” (Grifo meu.)
Maria, logo no início da canção, revelou que ela não chamaria atenção para si. Seu desejo era que Deus fosse o foco, o único engrandecido. Logo, Maria louvou a Deus por ser Salvador, Poderoso e Santo.
Salvador: Alguns cristãos, equivocadamente, crêem que Maria era imaculada, ou seja, que não tinha pecado. No entanto, ela mesma reconhecia Deus como o Salvador e, ao afirmá-lO, admitia sua necessidade de salvação. Pois só pecadores precisam de um salvador e ela sabia quem ela era e quem Deus era.
Poderoso: Ninguém é capaz de fazer os grandiosos milagres que Deus faz. Seu poder é ilimitado. Para Deus, que criou o mundo ex nihilo (3), a virgindade de Maria não era impedimento algum para torná-la mãe.
Santo: Em Deus não há pecado, injustiça ou qualquer impureza. Dizer que Seu nome é Santo é dizer que Seu caráter é Santo.
A canção de Maria em adoração a Deus é um tipo raro de oração que além da singularidade poética, prioriza o louvor e a gratidão sem preocupar-se com petições. A beleza e o conteúdo da sua canção fascinam e encorajam. Maria cantava, com belas palavras, a verdade sobre Deus.
Nosso momento da história, que chamamos de pós-modernidade, ainda que produza muita informação, é marcado pela superficialidade do conhecimento. As pessoas estão contentes com o pouco que sabem, inclusive sobre Deus. Neste sentido, há muitos que se consideram cristãos porque visitam igrejas, oram ou leem a Bíblia. Mas você sabia que Satanás também visita igrejas, conversa com Deus e conhece a Bíblia melhor que qualquer erudito? Quando alguém não alcança nem sequer a superficialidade do conhecimento é porque não saiu da profundidade da ignorância.
Outra grande marca da pós-modernidade é a relativização do absoluto. “Não existe uma verdade” diria o pós-moderno; ele, porém, não percebe que sua própria frase o condena. É por isso que, para muitos, não é Deus quem existe, mas deus (4). Dessa forma, as pessoas criam seus deuses baseados em suas experiências e julgamentos pessoais de moralidade.
Maria, pelo contrário, conhecia Deus profunda e verdadeiramente. Sua percepção sobre quem Deus era não estava baseada em seu próprio discernimento. Quando ela entoou gratidão e louvor a Deus, ela sabia, por meio das Escrituras Sagradas, que Ele era Salvador, Poderoso e Santo. Ele é assim descrito dezenas de vezes no Antigo Testamento, a Bíblia de Maria (5), à qual ela inclusive alude mais de quinze vezes no Magnificat. Ela conhecia a Palavra de Deus e, por isso, sabia quem Deus era.
E quem você realmente conhece, Deus ou deus? Maria cantou com alegria e gratidão o que vinha de um coração e uma mente cheios do conhecimento do Senhor. Maria transbordava de emoção, mas sem perder a razão. Escreveu o teólogo inglês Frederick Brotherton Meyer (1847 – 1929):
Evidentemente, Maria vivia em estreita familiaridade com as Escrituras. Ela, muitas vezes, havia sido profundamente tocada por suas promessas radiantes, tinha implorado a Deus que ajudasse o Seu povo e enviasse o Salvador. Agora, visto que esta bênção chegou para ela, [Maria] expressa seus agradecimentos, não apenas sob a inspiração expressa do Espírito Santo, mas nas expressões íntimas da Escritura (6).
Cuidado! Achar que conhece a Bíblia sem de fato conhecê-la pode lhe dar a falsa impressão de que você conhece o Natal de verdade. Está escrito: Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste (João 17.3 – grifo meu). Conhecimento é parte da genuína espiritualidade.
UMA ORAÇÃO
“Senhor Deus, perdoe-me por eu não conhecê-lO como deveria. Reconheço que é pela Bíblia que poderei corretamente saber mais sobre o Senhor. Espero conhecê-lO cada dia mais para, igualmente, desfrutar cada dia mais de Suas bênçãos e orientações.”
1) De fato, a palavra no texto bíblico não diz que Maria cantou [um hino] (ὑμνέω – hymneo), mas que ela disse (εἶπον – eipon) aquelas palavras. Chamamos o trecho (Lucas 1.46-55) de cântico porque ele é historicamente assim reconhecido. Ele possui os elementos de um gênero literário poético, com ritmo (presença de parallelismus membrorum), métrica, artifícios retóricos e difere de seu contexto próximo. Outra opção para Maria cantou, seria Maria recitou. Veja detalhes em Biblical Studies Press. (2006). The NET Bible First Edition; Bible. English. NET Bible.; The NET Bible. Biblical Studies Press.
2) Magnificat traduz a palavra grega Μεγαλύνει (Megalynei), que em português traduzimos por engrandece.
3) Expressão latina que significa “a partir do nada.”
4) De forma didática, Deus, com a primeira letra maiúscula, representa o Deus verdadeiro, enquanto deus, com a primeira letra minúscula, representa um deus criado pela mente humana, um falso deus.
5) Lembre-se de que na época de Maria o Novo Testamento ainda não havia sido escrito.
6) MEYER, F. B. Through the Bible day by day. E-sword Version 10.0.5. CD-ROM.
Este texto é Capítulo 9 do devocional “O Natal Verdadeiro – 12 Reflexões Bíblicas e Natalinas segundo o evangelho de Lucas“, criado por Thiago Zambelli, e publicado originalmente em www.nataldeverdade.com.br. Compartilhado com a devida autorização do autor.